Ademerval Garcia
Para entrar na Organizao Mundial de Comrcio (OMC) preciso que o pas negocie com cada membro - hoje mais de 140 - as respectivas listas de entraves e interesses comerciais. Ou seja, deve limpar seu contencioso e acertar-se com cada pas-membro. Precisa ainda consolidar na OMC esses acordos, que passam a valer para todos os pases-membros. No caso do Brasil, quando a China nos procurou em 1997/1998 para conversas bilaterais, nossos negociadores pediram a reduo de barreiras tarifrias a produtos como suco de laranja e derivados de soja. O imposto de importao sobre suco de laranja, de 75%, caiu para 25% e depois para 15%. As vendas de suco para a China eram de 300 a 900 toneladas anuais, rendendo de US$ 200 mil a US$ 700 mil, pois com essas tarifas o produto chegava l a preo incompatvel com o poder aquisitivo da populao.
Com a nova tarifa de 15%, em vigor a partir da entrada da China na OMC, j enviamos para l mais de 3 mil toneladas de suco em 2001, e 8 mil toneladas entre julho e janeiro deste ano, devendo chegar a 15 mil toneladas at o fim deste ano-safra (julho 2001 a junho 2002). Mais de 1.500% sobre o volume exportado antes. De US$ 700 mil no mximo, at ento, a China dever importar nesta safra mais de US$ 13 milhes, 15 vezes mais do que vendemos ao Mercosul. Empresrios do setor apostam que em 2003 chegaremos a 50 mil toneladas, ou quase US$ 50 milhes, para um mercado quase inexistente h dois anos, mas que representa 1,5% das exportaes (e talvez 4% a 5% em 2003) ante 0,2% do Mercosul.
Na Rssia, onde estimulamos empresrios locais a negociarem com o seu governo uma baixa tarifria de 25% para 5%, fora da OMC, as exportaes comeam a deslanchar. O discurso oficial sempre foi o de que o empresrio brasileiro no tem cultura exportadora, tolice representativa de posies tendentes inrcia interna - para no fazer a reforma fiscal e reduzir o Custo Brasil - ou externa, para se acomodar ao aparelho de gesso chamado Mercosul, por cujas regras o Brasil se impediu de negociar bilateralmente, fazendo-o s em bloco com os demais membros dessa limitada rea de comrcio.
Mas com a China o Brasil negociou livremente. Fora do aparelho de gesso poltico, nossos negociadores sabem caminhar com eficincia. Presos nele, vemos o Mxico negociar com a Unio Europia quotas de suco de laranja a tarifa zero, enquanto o produto brasileiro taxado em 15,2%. Acordos bilaterais de pases do Caribe e do Mediterrneo com os EUA e UE j nos tiraram espao para quase 300 mil toneladas de suco, mantendo-nos nos mesmos volumes dos ltimos dez anos, enquanto o mercado cresce suprido por novos e geis fornecedores auxiliados por seus governos.
O que agora ocorre na China deveria mostrar que mentalidade exportadora, falta ao governo e no ao setor privado. Basta o governo fazer sua parte. O setor privado exporta no porque o Brasil comprado, mas vende apesar do Custo Brasil, da burocracia, da gangorra cambial, da falta de promoo no exterior, que permite prevalecer a imagem de desigualdade social, pobreza e violncia que o Pas projeta e que tanto nos dificulta a conquista de mercados. Se nosso comrcio exterior est aqum do seu potencial, isso por causa ou da inrcia do Estado, e no do setor privado, apto a responder rpido quando a ocasio aparece.
O empresariado sabe o que fazer, e se no d para exportar daqui, instala-se no exterior e exporta de l. Como o caso da China mostra, as exportaes s vo deslanchar se negociarmos livremente com os parceiros. A melhoria do nosso padro social no pode ser contida por anseios de hegemonia, os quais, ainda que realizados, no levaro a lugar nenhum porque seriam exercidos numa rea pequena para nossas potencialidades. Alm do mais, como disse ao ministro da Unio Europia para o Comrcio, Pascal Lamy, o Brasil metade da rea da Amrica do Sul, metade do PIB e metade de populao. Somos o mercado que interessa.
Ademerval Garcia presidente da Associao Brasileira dos Exportadores de Ctricos (Abecitrus)
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