Mrcio Cavalca Medeiros
Ao observar o desinteresse da populao em vacinar as crianas contra a paralisia infantil, comeo a acreditar que em breve o Brasil voltar a ter casos de paralisia infantil registrados. Da mesma forma que a febre aftosa voltou, a dengue voltou, a gripe voltou e assim sucessivamente. Tudo por falta de envolvimento da sociedade e de doenas em que a mudana no comportamento humano a maior arma contra esses vrus que matam. Fiquei decepcionado em ver que a Secretaria Municipal da Sade teve que adiar por trs vezes o encerramento da campanha, e mesmo assim no atingiu a meta de 100% de vacinao, to pouco a meta aceitvel pela Organizao Mundial da Sade. Uma vergonha.
Para quem no sabe de primeiro de janeiro a primeiro de julho de 2009, foram registrados 600 casos de paralisia infantil (poliomielite) em todo o Mundo, contra 714 no mesmo perodo de 2008. No total, o mundo contabilizou 1.652 casos de plio no ano passado, e as estimativas para 2009 ficam em torno de 1.200 casos, mostrando que a doena continua recuando, diante de todo o esforo que os agentes de sade, os rotarianos, voluntrios, os mdicos e enfermeiros se dedicam nesta causa.
Segundo estatsticas da Organizao Mundial de Sade (OMS), de primeiro de janeiro a primeiro de julho deste ano, tivemos 160 vtimas da paralisia infantil nos chamados pases reinfectados. E que fique claro: a plio hoje em dia realmente considerada endmica em apenas quatro pases: ndia, Nigria, Afeganisto e Paquisto. Mas para a minha surpresa, 15 pases africanos, onde a doena vem sendo registradas, mesmo que com poucos casos, voltaram a ter a paralisia infantil como problema preocupante. Agora so 19 Pases em que o vrus uma ameaa.
O que assusta que estes 160 casos contabilizados nos pases reinfectados, neste primeiro semestre de 2009, j ultrapassaram a soma de todos os casos registrados nessas mesmas reas ao longo de todo o ano de 2008, que foi de 146 casos, ou seja, em termos absolutos, a plio est recuando, no h dvidas, mas o vrus voltou a se alastrar, ainda que de forma tmida, em reas onde j havia sido controlado. No atingir a meta estabelecida para vacinar todas as crianas uma ameaa para que este malefcio volte a afetar seres humanos dos mais vulnerveis e que carregaro esta marca pelo resto de nossas vidas.
Como bem diz o mdico ortopedista, Darci Cavalca, que faz uma srie de palestras de alerta sobre a paralisia infantil, inclusive mostrando fotos chocantes da doena, no podemos baixar a guarda. A qualquer momento esse vrus pode chegar at aqui, em questo de horas, e se as nossas crianas no estiverem protegidas, sero vtimas da doena. Para que uma criana contraia a plio, mesmo num pas onde a doena considerada erradicada, e onde a maioria absoluta da populao est sendo vacinada, como o caso do Brasil, basta que ela no tenha tomado a vacina e entre em contato com o vrus que s ataca seres humanos, ou seja, havendo os cuidados de saneamento bsico, fica mais difcil do vrus sobreviver, porm, no so essas as nossas realidades no Brasil, no Estado de So Paulo e em Marlia.
Ao observar a volta da Dengue, que apenas o comportamento humano pode combater o mosquito, e agora ver o que a Gripe est fazendo com a humanidade, passo a temer pela paralisia infantil que tambm depende da mudana do comportamento humano para ser evitada, seja nas polticas pblicas de saneamento como o de vacinao. O primeiro caso, depende dos nossos governantes, mas o segundo no. Um pai ou uma me que no leva uma criana para ser vacinada contra a paralisia infantil deveria ser processada na Justia como ameaa sociedade como qualquer outro irresponsvel punido na Justia Criminal, o que no me parece ser uma preocupao das nossas autoridades, que preferem multar e punir quem no tirou um ttulo de eleitor do que um adulto que no protegeu o prprio filho e colocou em risco as demais crianas.
lamentvel o ponto que a ignorncia humana chega. Sem contar os problemas que uma criana com paralisia infantil provoca na sociedade, alm os dela prprio. Da o pai ou me aparece com cara de piedade e boa parte da sociedade fica com pena da famlia. Concordo com o ato de solidariedade com a criana, mas defendo que o pai ou a me deveriam ser punidos por no terem se preocupados com o prprio filho, pois as campanhas de vacinao so amplas, gratuitas e esto cada vez mais prximos dos mais ameaados.
Penso que chegar o dia que a campanha ter que ser em porta em porta. Mas para isso o vrus ter que voltar a ser um problema. Hoje apenas uma ameaa, mas como dizem: preciso que o mal acontea para que providncias sejam tomadas. Quando que aprenderemos que a preveno tem menos custo financeiro e logstico? Ser preciso mais crianas morrerem ou serem vtimas da paralisia infantil para que a sociedade desperte? Enquanto que o problema no for seu, no se faz algo. Alis, o que o amigo leitor ou leitora fez para que a campanha atingisse os 100% das crianas? S levou para vacinar as prprias crianas? Acha que isso o suficiente? melhor do que nada, mas ainda no resolve. preciso levar as prprias crianas e fazer com que outras sejam vacinadas tambm, seno os conceitos de fraternidade, conscientizao social, humanidade, dentre outros, tero que ser revistos.
Mrcio Cavalca Medeiros empresrio, radialista e ex-jornalista
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