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Título:

João de Junho, de Julho, de Agosto, de Sempre

Quando pequeno, minha família morava no bairro de São Paulo cujas ruas “de cima” têm nomes indígenas (Açocê, Miruna, Jandira, Maracatins,...) e as “de baixo”, de aves (Macuco, Tico-Tico, Sabiá, Juriti, Inhambu, etc). O divisor “de cima” e “de baixo” era a linha do bonde. Hoje é um bairro extremamente valorizado, mas, na época de minha meninice, os moradores eram imigrantes, principalmente da Europa Eslava e/ou Oriental. Minha mãe era polonesa.
Até hoje, tributo minha admiração por estas pessoas boas, trabalhadores, corajosas e determinadas.

Iluminação pública, calçamento, água encanada e esgoto? Nem pensar! Fora do grupo escolar e da agência dos Correios, que funcionava na sala de visita de uma senhora, não me lembro de bens públicos a serviço dos moradores de Moema.

Noite gelada, ventosa, permeada pelos cantos, sem nuvens, céu tomado de estrelas e balões. As ruas iluminadas por centenas de fogueiras, que, com suas fagulhas, faziam multiplicar as estrelas no céu.

Fogueiras para comemorar um natalício. O de João. Que João?

João, filho primogênito e único de Zacarias e de Elisheba (Elizabete ou Isabel). Ambos de idade avançada e justos diante de quem os criou. João, repleto do Espírito, que teve por missão aplainar os caminhos. João, homem que morreu martirizado por ter sido coerente e corajoso. Homem de entrega.

E a fogueira, que tanto nos encantava e que encanta as crianças de hoje?
Há muitas tradições a respeito da relação de João com a fogueira.
Entre as tradições, uma me é particularmente querida.Conta-se que Maria, uma jovem judia, prima de Elisheba, ao saber da gravidez de sua parente, apressou-se em viajar a fim de ajudá-la. Maria também estava grávida e a viagem mostrou-se mais penosa que o esperado, atrasando seu andar. A noite chegou, geando os campos e as colinas.

Noite escura que a fez sentir-se perdida, como perdida estava. Um breve tremor tocou seu coração e se estendeu até o de João, no ventre de sua mãe.

João, que no Espírito estava, implorou a Este ajuda a Maria.
Gradativamente, tocados pelo Espírito, os guardadores de ovelhas foram acendendo fogueiras que iluminaram e formaram um caminho seguro a ser seguido pela jovem mãe até a casa de sua prima. Já de pequeno, João se preocupava em mostrar o caminho. Um caminho de luz.

Penso agora em cada um de nós. Eu, você, ela, em cada um dos voluntários do Amor-Exigente. Não somos a luz, mas podemos sê-lo, como de fato o somos, não por mérito, mas por escolha, não nossa, mas d’Ele, candeias que portam a luz e iluminam os caminhos das famílias brasileiras.
Em tempo: O filho da jovem judia, Maria quando adulto, disse:
“Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com um vaso ou, pô-la de baixo de uma cama; antes, coloco-a sobre uma luminária para que os que entram vejam a luz”.

Neube José Brigagão é presidente da Febrae
Colaboração de Vera Gelas, coordenadora de Amor-Exigente em Marília


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