Título: ARTIGO - O medo da aposentadoria
 
Márcio Cavalca Medeiros

Neste dias de muitas festas assisti uma cena que me chamou atenção por vários motivos. Meu cunhado vai se aposentar e ao invés de estar feliz, demonstrou muita preocupação. Estou com 43 anos de idade e nunca me passou pela cabeça chegar até a aposentadoria. Vou recorrer a previdência privada, pois certamente a do Governo não me é possível. Mas para meu cunhado não. Ele sempre recolheu a aposentadoria, onde trabalha também fazem o recolhimento e o que seria algo de muita alegria, percebi um tom de frustração e medo da parte dele.

Num primeiro instante imaginei a queda do ritmo de vida dele. Depois mudei de idéia em virtude de que cheguei a conclusão de que quem decide esse ritmo somos nós, e não nossa atividade profissional. Então, pensei que seria o fato dele deixar de fazer o que gosta, que no caso é ser dentista. Também mudei de idéia, até porque ele pode perfeitamente continuar a fazer os atendimentos numa quantidade menor. Cheguei a pensar que seria algum problema físico, mental ou até algo mais complexo distante de minha compreensão, porém, diante da cumplicidade que tenho com minha irmã, talvez eu soubesse de algo neste sentido. Então porque a preocupação?

Marotamente aproximei-me dele e na primeira oportunidade que tive toquei no assunto. Daí veio a explicação: meu cunhado Rolando Battistetti Filho, que vai se aposentar, não acredita na manutenção da aposentadoria por parte do Governo Federal. Puro descrédito político-administrativo. Nunca imaginei que meu cunhado, conhecido na família como “Rolagaiver”, numa referência aquele seriado da televisão “Profissão Perigo”, que tinha na personagem Macgyver, o solucionador de todos os problemas com engenhocas e improviso em todos os momentos, tivesse esse tipo de preocupação didática. Meu cunhado é capaz de resolver todos os problemas que existam. Da maneira dele, mas resolve. Será que, agora, aposentado ele vai deixar de buscar soluções para curtir melhor a vida? Será que ele deixa de ser solução para ser problema?

Se bem conheço meu cunhado (e olha que este grau de parentesco não é dos mais simpáticos), ele encontrará uma solução para esta situação que tornou-se uma tormenta na vida dele, pois, mesmo contribuindo para a previdência por longos anos, nunca achou que chegaria na melhor idade tão rápido. Ele já superou meio século de vivência e certamente terá outro meio século para ser o elixir da revitalização de nossa família. Afinal, com mais de 50 anos é de dar inveja a qualquer jovem, com o físico que tem, rapidez de raciocínio e agilidade incomuns, que certamente devem ser os problemas visíveis da aceitação da aposentadoria.

O descrédito do Dr. Rolando Battistetti Filho é igual a de centenas de milhares de brasileiros que sonhavam em ter uma qualidade de vida melhor, e passaram a ser visto como algo descartável por culpa de um Governo que trata muito mal as pessoas que acreditaram no programa desenvolvido pelos governantes. O preconceito, penso que seja ainda o problema maior, antes mesmo da péssima administração pública quanto a previdência social, e a desigualdade entre recolhimento e recebimento. Minha mãe Marlene, ao se aposentar encontrou uma qualidade de vida melhor, mas sem filhos. O marido dela, o figuraça do Arnaldo, esbanja sabedoria quanto a aposentadoria, pois aposentou-se muito cedo, e tenho certeza que meu cunhado, em breve encontrará a disposição e a coragem de assumir a idade, a nova fase da vida e a visão dos verdadeiros professores da vida, pois não será do ganho da aposentadoria que ele deixará de cuidar da família e principalmente de assessorar minha irmã.

Também não acredito na aposentadoria pública, por isso dou preferência para a privada, no entanto acredito que o dom maior é chegar bem a este estágio, afinal ninguém consegue ter vitalidade, disposição, saúde, inteligência, motivação, físico, e tantas outras necessidades simples que dependem de nós mesmos, por 100 anos. Isso mesmo 100 anos, que é a idade que temos que almejar. Existem exemplos de que é possível ser muito, mas muito mesmo, feliz com 60, 70, 80, 90 ou 100 anos. É uma questão de desejo aliado a conhecimento com disciplina. Isto pode ser chamado de Sabedoria Plena.

Talvez o que meu cunhado não percebeu é que será difícil se aposentar com qualidade de vida se continuar fumando. Mas este é um outro assunto, afinal, ninguém é perfeito e meu cunhado é prova de que não existe perfeição entre seres humanos. Relaxe e aproveite esta conquista “cunhadão”, pois não são muito que atingem a sua marca, e isso deve ser celebrado.

Márcio Cavalca Medeiros, é radialista, ex-jornalista e empresário
E-mail: marcio@medeiros.jor.br
Blog: marcio-medeiros.blogspot.com